Amor, Espiritualidade e Feminismo por Bell Hooks

A foto acima é da série GreenLeaf . Grace é uma pastora e durante o seriado demonstra atitudes feministas.

Estou a meses lendo o livro O feminismo é para todo mundo (Feminism is for everybody: Passionate Politics) da Bell Hooks, e a cada leitura é um aprendizado de como feminismo pode moldar nossas vidas e sociedade, ambos para suas melhores versões.

"Apesar da limitação do discurso feminista em sexualidade, políticas feministas são o único movimento por justiça social que oferece uma visão da bem-estar mútuo como consequência da sua teoria e prática. [...]" Trecho do capítulo Uma política sexual feminista: ética da liberdade mútua

Assim como o tópico entre sexualidade e as relações de dominação e subordinação que fazem parte dos relacionamentos baseados no sistema patriarcal, Bell também se propõe a falar sobre Amor e Espiritualidade.

Afinal Amor e Espiritualidade são antagônicos ao Feminismo?

"[...] Não há amor quando há dominação." Frase do capítulo Amar de novo o coração do feminismo

Bell desafia a noção do amor que o patriarcado prega em nossa vidas, que vou chamar de amor romântico patriarcal:

"[...] Amor na cultura patriarcal foi relacionado as noções de possessão, a paradigmas de dominação e submissão onde se assumiu que uma pessoa daria amor e outra receberia isso. [...]"

Em um sistema patriarcal, o masculino é priorizado e dado a ele poder, e nas relações romantico-afetivas o homem usa disso:

Busca no Google sobre morta por vs morto por">Busca no Google sobre morta por vs morto por

O amor romântico patriarcal não é exclusivo a relações heterossexuais. É um dos entendimentos que tenho nas muitas falas de Bell ao longo do livro, e de relatos pessoais que já escutei. Mas esse não é meu lugar de fala e convido as mulheres e homens homossexuais a expressarem sua opinião sobre o assunto.

Enfim, Bell propõe repensarmos o Amor, para aquele que se baseia no mútuo, em relações simétricas de afeto, sem possessão.

"amor age para transformar a dominação"

"[...] Na realidade, o bem-estar emocional das mulheres e dos homens seria melhorado se ambas as partes adotarem o pensamento e a prática feministas. Uma verdadeira política feminista sempre nos leva das restrições à liberdade, da falta de amor ao amor. A parceria mútua é a base do amor. E a prática feminista é o único movimento para a justiça social em nossa sociedade que cria as condições em que a mutualidade pode ser nutrida."


A sociedade em que vivemos, chamamos de patriarcal, de racista, pois não se trata de casos isolados de violência contra a Mulher e a pessoas Negras. Quando falamos de uma estrutura de opressões, ele perpassa as dinâmicas do nosso dia-a-dia (piadas racistas) à práticas institucionalizadas de racismo como a Polícia brasileira que mata jovens negros a rodo e a sociedade e estado agem como se isso fosse um indício normal (normal para quem é branco ou quem pensa como a branquitude). E não deixemos de falar que o Brasil é o país que mais mata transexuais e travestis.

A violência contra esses grupos se dá como consequência da manutenção de um sistema que insiste em ensinar, sim ensinar, que homens podem isso, que isso não é coisa de Mulher, que cabelo tem que ser liso, que quem quer consegue "subir na vida", por que estava vestindo isso? o que estava fazendo ali àquela hora?, que existem somente o genero e suas expressoes masculinas e femininas, e tudo atrelado a seus órgãos genitais, somente e respectivamente, etc.


O Amor e a Espiritualidade não estão fora desses sistemas de opressão.

"Espiritualidade feminista criou um espaço para todas as pessoas interrogarem sistemas de crenças ultrapassados e criar novos caminhos. Representando as divindidades em diversas maneiras, recuperando nosso respeito pelo sagrado feminino, tem ajudado a encontrar novas maneiras de afirmar e/ou reafirmar a importância da vida espiritual."

No capítulo Espiritualidade Feminista, Bell Hooks explora como as matrizes Cristãs foram moldadas também no patriarcado: sim o tal "amor cristão" também desmerece a mulher, e privilegia o homem em relações de opressão.

Mas Bells também coloca que houve/há uma disruptura dessas bases no Cristianismo, quando relata:

"Quando as Cristãs feministas começaram a oferecer críticas centradas na criação e interpretações da Bíblia, das crenças cristãs, Mulheres foram capazes de se reconciliar com suas políticas feministas e sustentar o comprometimento com a prática Cristã."

Para além do Cristianismo, que foi um dos mencionados aqui, também para outras bases religiosas devemos nos perguntar e desafiar nossas crenças e o que elas nos fazem a outras pessoas. E de onde isso tudo surgiu? Quem as escreveu?

Não só a questão do desafio a um pensamento que lhe foi ensinado, é repensar o papel da sua fé em relação a outras pessoas, e como você a usa para atingi-las.

"Fundamentalismo não só encoraja pessoas a acreditar na desigualdade como natural, ela perpetua a noção do controle do corpo feminino como necessário."

E por uma questão de que a busca da espiritualidade é intrínseca a humanidade. É preciso discutir o papel das religiões nas perpetuação das opressões.

Para construir igreja evangélica, policial ataca terreiro de Umbanda e ameaça família

Atos da transfiguração desaparição ou receita para fazer um santo

"Logo no começo, o movimento feminista lança uma crítica a religião patriarcal, que tem tido profundo impacto, mudando a natureza da adoração religiosa na nossa nação. Expondo a maneira do dualismo metafísico ocidental (a suposição que o mundo pode ser sempre entendido pelas categorias binárias, que há um inferior e um superior, um bom e um mau) foi a fundação ideológica de todas as formas de grupo de opressão, sexismo, racismo, etc, e que tal pensamento formou as bases dos sistemas de crenças Judia-Cristã."

E portanto, as religiões devem ser repensadas. Afinal mesmo com o divino envolvido há sempre o intermediário, a humanidade, para contar como esse divino se deu. Há de se perguntar quem criou o tal Divino. E que o Divino pode ser feminino.


Sobre o livro Feminism is for everybody, eu não tenho conhecimento se há uma edição do livro em Português, mas quem tem o privilégio de ler em Inglês é uma ótima fonte de conhecimento sobre o Feminismo, sua história, Feminismo Negro, o papel das lésbicas no movimento, relações de classe, direitos reprodutivos (assunto tão necessário e em evidência com a PEC 181).

Espero que logo tenhamos a edição traduzida para termos mais inclusão nos debates feministas. Não que não tenhamos aqui nossas companheiras que desafiam os pensamentos sexistas e racistas da nossa sociedade brasileira:

RACISMO E SEXISMO NA CULTURA BRASILEIRA por Lelia Gonzalez

http://blogueirasnegras.org/

https://www.geledes.org.br/

Uana Mahin

Joice Berth

Winnie Bueno

http://www.naomekahlo.com/

Nátaly Nery

Gabi Oliveira

Além de termos recentemente os dois livros de Angela Davis traduzidos no Brasil:

Mulheres, cultura e política

Mulheres, raça e classe


Coincidentemente, Amor e Espiritualidade, têm sido dois temas que pessoalmente tenho procurado, e ter esses dois tópicos entrelaçados com os tópicos feministas, me ajudam a moldar os meus pensamentos de mim e sobre a sociedade.