É muito difícil encontrar informação sobre as Mulheres Negras e eventos na área de desenvolvimento de software/hardware no Brasil.
No meu caso, procurando o assunto tive que ir até a página 5 de resultados para então parar. Geralmente para qualquer pesquisa que fazemos só olhamos a primeira página de resultados — onde muito sempre o algoritmo do Google vai mostrar algum conteúdo relevante a nossa busca.
Mas buscar sobre Pretas brasileiras na TI é outra história.
Alguns links já encontramos nos dias de hoje como o projeto Pretalab, pesquisas a partir de 2013 sobre dados no CNPq que começam nesse mesmo ano a coletar dados de raça e que acredito vão gerar mais dados sobre nossa participação na área científica (não só computação).
Temos também o filme Estrelas além do tempo que conta a história das mulheres negras na corrida espacial nos Estados Unidos.
Racismo e tecnologia
Racismo tem a ver com relações de poder, onde uma raça é definida superior a outra, e isso se reflete nas nossas relações sociais (por que há uma grande parte da população negra concentrada em situação de pobreza? por que pessoas negras são maioria na falta de acesso à educação?).
Quando se fala de branquitude, do homem branco, se fala de poder, se fala de privilégio, de acesso. Econômico e social.
Se fosse você procuraria mais sobre racismo e suas implicações na vida das pessoas não-brancas. Não se resume só a alguém chamar outra pessoa de macaco.
O Racismo não começou na área da Computação, ele vem de como vivemos em nossa sociedade, e isso é mantido e replicado em todos os seus subsetores. Incluindo a nossa área, Computação.
Na pesquisa que mencionei acima me deparei com esse vídeo da Preta Expressa, da Winnie Bueno, que recebe a Francielli, estudante do curso de Ciências da Computação da UFRGS. Em um momento do vídeo Francielli fala sobre como o curso de Computação é ainda moldado para pessoas privilegiadas — leia-se homem branco classe média alta — pessoas que já tem computador, pessoas que não precisam dividir seu tempo para os estudos com trabalhar para sobreviver, por exemplo.
Os impactos são diretos quando somos excluídas da construção das tecnologias usadas no nosso dia-a-dia.
Joy Buolamwini iniciou um projeto, o Algorithmic Justice League, onde ela aborda como os algoritmos de reconhecimento facial e outras tecnologias voltadas para Inteligência Artificial estão sendo construídos em bases racistas. O projeto tem o intuito de chamar atenção a situação e iniciar um novo pensamento sobre o treino desses algoritmos (que precisam ir além dos moldes brancos).
“Se você alguma vez teve problema pra entender a importância da diversidade em tecnologia e seus impactos na sociedade, assista este vídeo[…] Uma pessoa [negra] no time daria melhores resultados.”
O que é diversidade?
Para além de só consumir tecnologias. Nós mulheres negras fazemos tecnologia. E vamos ser reconhecidas por isso.
Mesmo em tempos onde vemos várias iniciativas bacanas de incentivo a mais mulheres na programação — se faz necessário fazer recortes.
Assim como o movimento feminista ao redor do mundo se reinventou e se reinventa ao pautar interseccionalidade, racismo, transfobia, classe, etc, a Computação (e qualquer outro subsetor de nossa sociedade) precisa destruir esse cenário onde outros recortes de Mulheres — que não estão nos moldes da branquitude, heteronormatividade e elitismo — sejam, também, incluídas na academia e no mercado de trabalho.
O problema não é só o pensamento “homens são melhores que mulheres”.
A Computação está inserida em nossas relações sociais e econômicas. E é usada sim para manutenção de privilégios (o lance da branquitude lembra?) já que mantemos os mesmos moldes racistas na área.
O fazer tecnologias digitais deve ser de acesso a todas as pessoas. E o Feminismo Negro Tech é um dos caminhos para isso.
feminismoNegroTechBr
Uma lista que comecei para mapear ações para Mulheres Negras
Conhece mais iniciativas voltadas para Mulheres Negras? Escreve aí nos comentários :) (rosto sorrindo)