Django Mulheres no Recife

Este post vem contar como foi o Django Mulheres que aconteceu na cidade do Recife, Pernambuco, Brasil, nos dias 13 e 14 de maio de 2016.

Até o momento já participei de 3 eventos voltados para mulheres na computação. E sempre é legal o resultado de como as pessoas ficam felizes (as que ensinam e as que aprendem).

O Evento

O Django Mulheres é um evento baseado nos moldes do Django Girls, uma organização sem fins lucrativos, que acontece ao redor do mundo pela vontade de pessoas voluntárias com o objetivo de que mais mulheres sejam expostas ao mundo da programação ganhando empoderamento e conhecimento.

Para realizar o evento, o grupo do Django Girls estabelece um modelo e ferramentas que ajudam na realização do mesmo. O modelo é uma sugestão permitindo a quem organiza propor outros formatos que sempre deve almejar expor as mulheres ao desenvolvimento Web.

A proposta são dois dias de atividades voltadas para um tutorial onde as mulheres devem construir um blog. O blog é feito com o framework Django na linguagem Python.

Por que mulheres e não girls?

Por que no Brasil, onde se fala português, usar o termo girls em um evento para mulheres brasileiras?

Algumas pessoas da organização, e me coloco nesse bolo, já ouvimos que para muitas pessoas o uso do Inglês é sim intimidador.

A realidade brasileira é bem diferente da indiana, por exemplo, onde o Inglês é uma "segunda língua" já falada por uma boa parte da população.

As linguagens de programação são em Inglês sim, mas isso não é desculpa para que não usemos nossa própria língua para falarmos o que estamos fazendo ali. E mais importante. Quem queremos ali, entenda realmente para quem é o evento e a quê ele se propõe.

Por isso tentamos ao máximo usar Django Mulheres e não Django Girls.

E aí como foi?

Aqui em Recife, realizamos o evento no escritório da ThoughtWorks recebendo mais ou menos 30 mulheres e 15 treinadora/es.

Na imagem a sala da ThoughtWorks Recife com as mulheres no evento

Como já mencionei, o formato mais executado é o de dois dias que para nós foi sexta a noite e sábado o dia todo.

O primeiro dia, a noite, dedicamos o tempo para instalação do ambiente nas máquinas. Nesse primeiro momento elas, enquanto configurando seus ambientes, já começaram a conhecer umas as outras e trocar experiências.

O segundo dia, sábado, ajudamos as mulheres a seguirem o tutorial proposto pelo Django Girls onde propomos a elas que se dividissem em grupo a fim de ajudar o suporte da/os treinadora/es.

O dia de sábado começou com uma apresentação introduzindo alguns conceitos do desenvolvimento Web e algumas estruturas da linguagem Python.

Para a primeira apresentação, achamos importante pegar um pouco do que é dito no inicio do tutorial para que as mulheres iniciassem conhecendo um pouco do que elas seriam expostas ali.

A tarde tivemos a apresentação da Wandecleya Martins, que falou um pouco sobre Responsividade.

Ao longo do dia parávamos alguns momentos para que todas conversassem sobre as dúvidas mais frequentes que nós treinadora/es percebíamos. Falamos sobre como é a estrutura de uma aplicação Django (projeto e apps), versionamento, deploy (implantação, produção). Tudo bem simples para não sobrecarregá-las de tanta informação e que no momento achamos que não deveria ser tão profunda.

No final batemos um papo todas juntas trocando como foi a experiência de cada uma programando :) rosto sorrindo

Impressões

Muitas mulheres que estavam ali nunca tinham sido expostas a programação ou tinham uma certa noção do que era. Algumas outras já haviam mexido com outras linguagens de programação.

Algumas relataram que era bem legal agora entender o que significa deploy, por exemplo.

Devido ao tempo, e era algo já esperado por nós treinadora/es, não foi possível a nenhuma delas terminarem o tutorial, mas ao final elas mencionaram que a experiência foi ótima pela exposição dos novo termos e verem como um site é feito.

Além disso, elas mencionaram que apesar da ótima experiência, ainda assim a atividade de fazer o tutorial durante todo o sábado tornava a experiência intensa e ao mesmo tempo cansativa.

Já nós treinadora/es julgamos que alguns pontos do tutorial eram um pouco demais para o que o evento se propunha, como por exemplo uma seção explicando o que é regex. Algo que poderia ser estudado mais para frente depois que elas, as mulheres, experienciassem o tutorial.

Do que eu senti o saldo foi bem positivo. As mulheres foram expostas a um pouco de como desenvolver aplicações Web, aprenderam termos novos. E outra coisa, elas expressaram o quanto se sentiram a vontade e acolhidas naquele ambiente.

Espero que todas prossigam procurando mais sobre programação e quem sabe ensinem outras também.

Quer organizar ou participar de um Django Mulheres?

No site do Django Girls há uma seção explicando sobre como organizar um evento. Aqui você pode encontrar as informações que precisa.

Já você que deseja participar para aprender. Há várias edições do Django Girls acontecendo pelo Brasil. Sempre pesquise, acompanhe comunidades em sua cidade/estado para saber mais.

Na redes sociais existem várias comunidades voltadas para mulheres onde sempre se posta os próximos eventos do Django ou similares. No site Mulheres na Computação tem esse post que lista algumas comunidades/grupos voltados para as mulheres na tecnologia.

Ainda não é suficiente

Existem mulheres que ainda não foram alcançadas por essas iniciativas. Como mulheres na computação, e para mim mulher negra, devemos nos atentar ao fato que ainda estamos longe da inclusão de TODAS as mulheres. As mulheres da favela, as mulheres negras, as mulheres trans, mães de família, independente de sua idade, e tantas outras especificidades.

Eu pessoalmente acredito que devemos ser mais intencionais a quem destinamos esses eventos. Se preocupar em nomes em Inglês é só um aspecto, existem muitos outros que impedem de muitas mulheres serem beneficiadas por esses eventos, como a distância, por exemplo. Não podemos nos esquecer das tantas opressões que assolam milhares de mulheres por aí, as impedindo de terem as mesmas oportunidades que nós mulheres da computação temos.